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Sandália de professora

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Em uma bela manhã de aula, se é que se pode chamar de bela manhã com aula, mas essa eu até arrisco, pois realmente era incomum e por isso bela. Parecíamos poetas buscando inspiração.
Aula incomum! Muita coisa aconteceu, alunos com jeito próprio de vestir, digo, jeito que só os seminaristas têm para assistir aulas, e para completar a paisagem, estava a professora com seu jeito único e quase discreto. Que aula interessante.
Não sabia se dedicava atenção à sabedoria da professora, às conclusões de meus colegas, à ópera das maritacas ou as folhinhas que pouco-a-pouco caíam das árvores e esverdeavam meus cabelos. Porém, em meio a tudo isto algo me deixava deslumbrado: era o belíssimo balé dos finos saltos da sandália aos pés da quase discreta professora.
Era um balé inconfundível, giravam para um lado e para o outro, se escondiam na terra, mas com um impulso mágico saíam da terra novamente repetindo o belo movimento; desta vez, demonstravam delicadamente sua força, sustentando sobre si todo o peso dos pés e das finas pernas encobertas, da maestrina da música que embalava os simétricos movimentos dos saltos.
Tão resistentes eram, que por cinqüenta minutos me fizeram uma belíssima e incansável apresentação através da qual minha alma banhou-se de inspiração.
Aula incomum, olhos destreinados!
Olhos atentos, coração inspirado.

Que saudades eu tenho de ser pequeno

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Quando eu era pequeno muitas coisas eram diferentes. Engraçado que eu achava que toda aquela diferença minha era uma verdadeira chatice. Queria logo virar adulto. Fazer 18 anos, passar dessa idade, poder beber quando quisesse e o que quisesse, poder dirigir um carro, poder ter o meu próprio dinheiro e tantas outras coisas típicas de adultos.

Hoje eu posso quase todas estas coisas, mas não é mais como uma criança. Agora eu descobri que o que eu realmente queria não era crescer, era fazer tudo que o adulto faz, com a liberdade e ingenuidade irrevogável da criança.

Que saudades eu sinto dos meus períodos de férias, por exemplo. Sim, as férias de quando eu podia colocar uma bermuda e uma camiseta e sair descalço pelas ruas, correndo com os colegas para todos os lados. Descansando pendurado na copa das árvores. Contanto histórias, sonhos, piadas, bobagens à sombra do bosque de eucaliptos a muitos metros de relva das nossas casas.

Mas a verdade é que a vida não permite a existência de “Peter Pans” perdidos por aí. Quando os 18 anos chegam, quando chega a carteira de motorista, quando chega o primeiro porre, quando chega o dinheiro... muitas outras histórias já estão se desenrolando. Quando nos damos conta, já crescemos. E aí, tudo que queríamos é ter férias sem preocupação, é ter dinheiro sem responsabilidade, é ter 18 anos, sem a barba... tudo que queremos é ser feliz...

O pior é que quando eu completar 50 anos, estarei escrevendo em um tataraneto do nosso Ipad, dizendo como eu era feliz com 24 anos e não sabia. Como minha vida com barba negra, pele firme, sorriso aberto, coluna reta, responsabilidade financeira foi na verdade uma feliz infância. Mas... para isso ainda vou ter que esperar um bom tempo...